Castelo de Cartas

Ele estava perdido, em peças como um puzzle, todas as cartas estavam caídas, completamente baralhadas, peça a peça, carta a carta, ela veio com a maior calma do mundo, paciente como se não houvesse mais nada no Universo, foi juntando uma a uma, empilhando uma a uma, até que o puzzle ficou completo, até que o castelo foi erguido.

A tela do puzzle, a cola do castelo, não era ele, nunca foi. Era ela. Ela que tudo montou, que tudo construiu, ela que perdeu tempo para fazer dele melhor, para fazer dele completo. Ela que perdeu tudo para que ele não se perdesse. Ela que abdicou de tudo. Que deu tempo. Deu sorrisos. Deu felicidade e conselhos. Ela que era a cola do castelo, ela que era a tela do puzzle. Ela que não recebeu nada em troca. Ela que foi embora. Ela que escolheu ser feliz. Partiu em busca da felicidade. Partiu para montar o próprio puzzle. Para construir o próprio castelo. Ela que decidiu perder tempo nela. Ela que pacientemente se vai reconstruir. Porque ela deu tudo. E nada recebeu. Ela merece o Mundo. E ele é Inferno. Ela merece o Céu. E ele é apenas Terra. Ela merece alguém, alguém melhor que ele.

Ele como fica? Ele não interessa.

Frio

 Não sei se é do Outono, se é pelos dias estarem a ficar mais frios, se das noites começarem a ser geladas ou se do meu corpo estar habituado ao teu calor, não sei bem porque é que sinto este frio. Não estava quente antes, mas não estava frio de certo, não sei como estava sequer, mas sei que estava melhor. Já não era escaldante, já não era tórrido, mas não era frio, de certo não era frio. Já não era um calor imenso, já não era um calor inenarrável, mas não era frio, de certo não era frio.

Agora não sei como vai ser, não sei se vai voltar a ser, não sei se pode voltar a ser, mas sei que agora está frio, agora de certo está frio. Não sei se alguma vez vamos voltar a ser chama, não sei se ainda somos brasa incandescente, não sei se somos cinza sequer, mas sei que sinto frio, de certo sinto frio. Tenho esperança, sei que é Outono, sei que depois vem o Inverno, sei que as flores que ainda não morreram vão fazê-lo neste tempo que se segue, mas todos os anos elas renascem, sempre mais bonitas que eram antes, mas agora está frio, de certo que agora está frio. Não somos uma flor, de certo que não somos uma flor, mas também não somos frio, de certo que não somos frio.

#NotGood

Entrego-me de novo às trevas
Vagueio sozinho num caminho escuro
Perdido nos recantos mais sombrios da minha mente.
Dia sim, dia sim
Vou lutando com o que sobra de mim
Considero-me impuro,

E vou-me afogando levemente.
Procuro uma paz que não encontro
E sinto-me como se fosse outro
Vou seguindo, por fora, a sorrir
E todos vão acreditando
Mas a mim não me consigo ludibriar

Já não existe felicidade no pensamento,
As feridas já pararam de sarar
E a força vai-se esgotando,
Mas nenhuma fechou por completo.
E eu na minha mente continuo a vaguear
Até que em algum dia, eu vou parar.
A força vai-de dissipar
E eu de vazio vou ficar repleto!

Olá, De novo!

Olá meu velho!
Como está tudo aí por cima?
Espero que bem, eu por ti mantenho a mesma estima!

Houve momentos em que vi a tua imagem naquele som

Naquelas serenatas,
Naquelas músicas que tu de quando em vez cantavas!

Mas não é por isso que escrevo,
Troquei de trabalho, sabias?
Calma, o sonho é o mesmo, não mudou
Só a tua voz é que escasseou,
Mas a vontade de fazer de ti orgulhoso
É a mesma desde o dia em que pela última vez te abracei.
Continuas a ser aquela minha vontade vertiginosa!
Aquele vontade sem noção, aquela vontade que me torna para o Mundo perigoso!


Meu velho, onde quer que estejas, o meu maior beijo e abraço
e o maior obrigado por me deixares mais forte que o aço!
E por me deixares mais ternuroso e caloroso
E sempre a precisar deste nosso desabafo!






P.s.: Sinto falta da tua voz de fundo em cada vez que ligo à mãe!

Se máquina do tempo houvesse

Sabes pai?
Já se passaram três semanas desde que te foste embora, sim escrevo que foste embora porque não acho que me tenhas abandonado, não sei porquê mas não é isso que sinto!
Sinto-te em cada sorriso e gargalhada! Em cada vislumbre da noite ou do dia, que pouca força tenho para enfrentar! Vejo-te em cada momento! Desde que te foste embora já brindei a ti, já brindei contigo, já bebi sozinho e contigo! Já fumei tantos cigarros contigo e outros tantos sem ti! Já chorei sozinho, acompanhado, só contigo e sozinho de novo e continuo sem perceber o porquê de te teres ido embora!
Alguém um dia escreveu "Se máquina do tempo houvesse e me levasse até lá atrás, e este corpo que não obedece, tivesse força para recomeçar", eu anseio por essa máquina para me levar de novo a ti, ou melhor, para te trazer de novo a mim e de novo vermos aquilo que sou e que tu criaste!
Agora sou apenas um espelho de ti, mas estilhaçado em sete bocados ou em sete saudades, um espelho partido à procura do próprio reflexo, é isso que sou! Porque eu era o teu reflexo, mais ponderado e "reflexo" mas no entanto um filho à tua imagem, no melhor sentido possível, no melhor sentido que conseguiste criar!
Porque é que me deixas passar as noites a falar contigo, sem qualquer tipo de resposta! Eu sei que estás por aí algures, algures no meu Mundo, mas eu quero-te aqui, eu quero-te de volta! Eu sei que não fui o melhor, mas fui o melhor que consegui e sei que foste exactamente o mesmo para mim! Não quero continuar a falar com reflexos e memórias, eu quero falar contigo! Eu sei que não há volta a dar, sei que agora és aquela estrela mais brilhante no céu, a olhar por mim, sempre a olhar por mim, mas e nas noites mais escuras onde não se vê uma única estrela(?!), onde é que estás nessas noites?!?!?!?!?!?!?! Eu não preciso de ti só às vezes, eu vou sempre precisar de ti! Vamos deixar tudo para trás? Agarra-te a mim!
A minha vida depende de ti agora! Não te vás embora!
Ajuda-me em tudo o que conseguires,
E eu faço de ti o meu calcanhar de Aquiles!
Dá-me a força necessária,
Que eu a ti vou ser leal,
Faço de ti o meu conquistador, o meu maior ponto cardeal!

Nunca te esquecerei!

Velhote...(!)

Velhote, a sério que me estás a fazer isto?! Não! Não faças!
Sabes quando é que tirámos esta foto?! Na última vez que estivemos todos juntos na praia, vocês vieram ter comigo. Tinham saudades, eu também, mas preferia estar no meu habitat e ter a certeza que ninguém discutia! Fui egoísta, como muitas vezes sou! Mas agora não te peço só por mim, peço por toda a família(!), fica! Aguenta! Faz como fizeste quando tinhas 20 anos e o médico disse que não chegavas aos 30! Já tens quase 60! Agora levanta-te e vem para casa! Vem ter com quem te ama! Não cumpras com aquela ideia estúpida que sempre tiveste de ires depois da avó! Ela não precisa de ti! Eu preciso! A mãe precisa! A Bia precisa! E eu quero que venhas a ver os teus netos, meus filhos! Mas calma, não quero já, ainda sou novo para isso, é o que tu dizes sempre! Portanto volta, volta como eras, ou se não o conseguires pelo menos volta um pouco do que eras! Mas nós precisamos de ti! Eu preciso de ti pai! Arrependo-me de ter usado esta expressão poucas vezes nos últimos anos, "pai", agora já eras só o "velhote" mas és o meu velhote! E és novo! Tens de aguentar! Levanta-te dessa cama, manda todos para o caralh* e diz que tens coisas para fazer em casa com o teu filho! Porque temos! Nós combinámos que sempre que fosse a casa íamos fazer alguma coisa, arrumar tudo, tratar da nova "suposta" garagem! Sim, suposta porque já sabemos que vocês só lá vão pôr tralha! Mas vem, volta!

!

Às vezes as chamas começam a arder
E eu paro e percebo aquilo que posso perder
E fico a ver sem conseguir parar
Sem conseguir mudar

O tempo vai sendo marcado pelo compasso

Do relógio, mas nada muda

Quando parece melhorar, eu fico a marcar passo

E sem qualquer esperança

Porque nunca vejo uma mudança

O meu eu fica parado

À espera de algo que devia vir

Mas nunca vem

À espera que a tempestade passe

Mas que nunca desaparece

Porque no fundo eu não a quero

Porque se for-mos bem a ver, eu não a mereço!

Porque espero pelo bem, porque espero a felicidade

Mas nunca deixo aquela escuridão
Porque fico bem na negridão
Porque anseio a luz

Que em mim nunca vai reluzir

Porque em mim nada brilha

Para além da claridade da negridão!