segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Castelo de Cartas

Ele estava perdido, em peças como um puzzle, todas as cartas estavam caídas, completamente baralhadas, peça a peça, carta a carta, ela veio com a maior calma do mundo, paciente como se não houvesse mais nada no Universo, foi juntando uma a uma, empilhando uma a uma, até que o puzzle ficou completo, até que o castelo foi erguido.
A tela do puzzle, a cola do castelo, não era ele, nunca foi. Era ela. Ela que tudo montou, que tudo construiu, ela que perdeu tempo para fazer dele melhor, para fazer dele completo. Ela que perdeu tudo para que ele não se perdesse. Ela que abdicou de tudo. Que deu tempo. Deu sorrisos. Deu felicidade e conselhos. Ela que era a cola do castelo, ela que era a tela do puzzle. Ela que não recebeu nada em troca. Ela que foi embora. Ela que escolheu ser feliz. Partiu em busca da felicidade. Partiu para montar o próprio puzzle. Para construir o próprio castelo. Ela que decidiu perder tempo nela. Ela que pacientemente se vai reconstruir. Porque ela deu tudo. E nada recebeu. Ela merece o Mundo. E ele é Inferno. Ela merece o Céu. E ele é apenas Terra. Ela merece alguém, alguém melhor que ele.
Ele como fica? Ele não interessa.

domingo, 14 de novembro de 2021

Frio

 Não sei se é do Outono, se é pelos dias estarem a ficar mais frios, se das noites começarem a ser geladas ou se do meu corpo estar habituado ao teu calor, não sei bem porque é que sinto este frio. Não estava quente antes, mas não estava frio de certo, não sei como estava sequer, mas sei que estava melhor. Já não era escaldante, já não era tórrido, mas não era frio, de certo não era frio. Já não era um calor imenso, já não era um calor inenarrável, mas não era frio, de certo não era frio.

Agora não sei como vai ser, não sei se vai voltar a ser, não sei se pode voltar a ser, mas sei que agora está frio, agora de certo está frio. Não sei se alguma vez vamos voltar a ser chama, não sei se ainda somos brasa incandescente, não sei se somos cinza sequer, mas sei que sinto frio, de certo sinto frio. Tenho esperança, sei que é Outono, sei que depois vem o Inverno, sei que as flores que ainda não morreram vão fazê-lo neste tempo que se segue, mas todos os anos elas renascem, sempre mais bonitas que eram antes, mas agora está frio, de certo que agora está frio. Não somos uma flor, de certo que não somos uma flor, mas também não somos frio, de certo que não somos frio.